quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Dois tempos... um só.

Olhando arquivos, resgatei um poema que escrevi ainda em 2004, com meus 15-16 anos.

Se eu partisse, faria falta a alguém?
Quem iria chorar por mim após minha carne apodrecer?
Quem diz que eu sou vivo o bastante para um dia morrer?

Por que sou tão medíocre e doente, um cego que não quer ver?
Por que ao invés de mudar, tu não deixas de esquecer?
Por que tenho que viver na pele de alguém
Que por todos será rejeitado até que chegue ao fim?

Ao fim dos tempos eu clamo, eu chamo alguém, mas ninguém vem
O ser que todos acham certo, não virá pois sou incerto
Eternamente no lugar mais baixo, o lado leve da balança
Sou o demônio entre os rejeitados

Entre os desgraçados eu vivo
E ando com os pecadores
Solidão eterna correndo pelas minhas veias negras
O ímpar no par, o conjunto nulo nos números

Traga-me água ou veneno, pouco me importa
Minha vida é tão podre que já está morta
Vivo como morto vive, morto vive como vivo
Vivo assim eternamente jamais

Mostre-me por inteiro a beleza do ser
Eis algo que jamais poderei ter
A cada encontro de olhares
Um desejo esquecido

A cada inspiração, sofro para expirar
Amo-te tanto, meu amor, que poderia te cuspir
Libertando-te dessa mente imunda que a mim foi cedida
Libertando-te dessa aliança maldita que a ti foi concedida

Afaste-se de mim, horror dos horrores
Deformado por opção, poço de impurezas
Por que lê essas palavras em vão
E acha que significam algo

Escuridão, música, luz, silêncio
E assim eu fujo da minha existência
Tranco-me em um mundo só meu e rezo ao além
Torcendo para estar errado sobre o Universo

Deixe-me terminar em um só verso
Pois toda a dor que sinto é utopia explicar
Arranque em você o que há de bom e levante as mãos aos céus
Serei então aquele com as mãos segurando as lágrimas que não param de chorar
Por estarem escorrendo em uma face que todos querem evitar



Eis que, há poucos minutos, cheguei em casa, apaguei todas as luzes e deitei-me sobre o chão. Com dificuldade, pude escrever algumas palavras.


Hoje eu estava muito mal,
Apaguei as luzes,
Me encolhi num canto
E chorei sozinho

Dizem que tudo dará certo no fim
E é por isso que eu escrevo
Para ninguém ler

Uma luz que some fez-me enxergar
Há tempos, o gosto podre do que é doce
A luz no fim do túnel é como o futuro...
Nunca chega, nunca chegará

Trajando negro,
Alguém que porventura foi parido
Por acidente, talvez

Tarde demais

Algo disforme que insiste em sobreviver
Em um mundo que não lhe pertence
Entre coisas que não lhe condizem
E pessoas que nada lhe dizem

Um engodo que fere

Uma ferida que rasga
Uma ruptura que se extende
Uma extensão que não mais alcanço

Sou jovem, e o serei eternamente
A esperança, posso dizer,
Não é a última que morre...
... pois eu ainda estou aqui.



Boa noite, amigo leitor.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Rosegarden Funeral of Sores

Após uma noite insone e um período de crise existencial que se perdura... Soa inacabado, e talvez o seja. Ainda assim, é o que veio de mim naquele dia. À luz de Clarice Lispector. Eu, uma Macabéia? Espero que não.


A dor não dá-se por estar desprovido do indolor,
Muito pelo contrário...
E sim pelo fato de estar quase que completamente só,
De forma que ainda há perda em vista no inevitável

O que o futuro presente vislumbrará perante seus olhos
E agora pouco vê, talvez por opção que tenha tomado,
É incógnita estranho que confunde sua paupérrima segurança
O desconforto da morte, então, torna-se oxigênio

Esse café frio da repartição existencial
Não mais é passível aos mais excitantes estímulos
Apenas o imundo e irremediável prazer oriundo
Da perversão inerente ao seu corpo de nascença, marcado que é

O complicado papel de ser e a intolerável necessidade de existir,
Já quase fora do curto alcance de suas mãos,
Vão esmaecendo a inconstante idéia da sobrevivência