terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Dégradé

À sombra de uma poça quase sucumbi
Andando e crendo, vendo o que queria ouvir
E tanta gentileza pouco fez, livrei-me
Do embargo amargo chamado prazer

Cresci pra todo lado e deixei
Caladas asas que eu vi voar
Deixei pouco a pouco de mim
Em cada estrada escura que ousei percorrer

A fraca e frágil linha entre o céu e o precipício
É feita de algodão das nuvens
Colado com cuspe de uma boca seca
Sedenta pelo oásis que, pena, virá tarde

Quando mordes meu peito acende
A luz revigora meu bem estar
Contudo, cidadão de meu mundo sou eu só
E meu reino hipócrita, tão pouco popular

Ainda vejo expostos rostos crédulos
Entre verdades que descomprovei
Isso ainda entristece, mas nem parece
À luz desse espelho

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Bula

Agora faz exatamente
3 minutos e alguns quebrados
16 horas e meu abatido semblante
Reduz-se a nada com requinte

418 dias

E quem diria que nada
Estaria mudado e tudo
O que acreditava fosse
A verdade cruel

Mesmo que eu não fizesse
As coisas da mesma forma
Que eu me arrependesse
Ou tivesse orgulho

Ainda que eu me lembre
Do seu nome e do que você é
Tudo mais foi e deixou
O amargor crescente e amortecedor

Por mais que eu encontre meu caminho
Dentre os calçados perdidos entre as pedras
É tempo demais agora para que possa
Fazer sentido ou fazer valer a pena

Meu colo pode abrigar um herdeiro
Minha aversão converter-se
No olhar mais encantador
Posso até acreditar em mim

Mas eu acredito, sobretudo
Em um mundo que desnudo
Apenas poderia amenizar
A impureza que é nossa, perante o voto

Creio no inevitável a esse ponto
Afinal, já se passa do tempo previsto
Na bula desse antibiótico

418 dias de abstinência
O corpo dói, e a alma...
Bom,
A alma já foi.